Maria Ribeiro Calil
Título da Tese: Currículos-discurso : o ensino de urbanismo nos cursos públicos de Arquitetura e Urbanismo Fluminenses de 1962 a 2023
Ano de defesa: 2025
Orientador: Cláudio Rezende Ribeiro
Resumo | Abstract: A presente tese estabelece um contexto com base em conexões teóricas entre os campos do urbanismo e da educação, explorando a forma como os interesses do capital moldam suas dinâmicas. A relação entre esses campos é analisada, sobretudo, a partir das políticas públicas urbanas e educacionais, tradicionalmente ancoradas em “planos-discurso”. A fim de identificarmos como este cenário se reflete no campo do ensino e formação em Arquitetura e Urbanismo (AU) no Brasil, com foco no Rio de Janeiro, nos baseamos em levantamentos acerca da trajetória dos cursos de AU no país e do perfil profissional atuante, evidenciando a relação entre a configuração atual desses cursos e os processos de precarização que afetam tanto o ensino como o trabalho na área. Neste contexto, salientamos o panorama perverso de expansão da mercantilização educacional através do ensino à distância (EaD) motivado pelo capital educador. Os levantamentos realizados investigam também a trajetória histórica do marco regulatório do ensino de AU a nível nacional – desde o Currículo Mínimo de 1962 às Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de 2021 – com vista a identificarmos o grau de importância conferido ao ensino de urbanismo à medida que os componentes curriculares vão sendo reformados. Entre os desafios enfrentados, destacamos a inconsistência dos dados educacionais disponíveis para consulta, bem como a escassez de referencial teórico consolidado sobre a análise curricular em AU, o que exigiu a elaboração de uma metodologia própria para sustentar as reflexões propostas. Diante disso, o exercício empírico realizado na tese, ao analisar as grades curriculares, reconhece que, embora estas não definam de forma plena o caráter dos cursos, é necessário evidenciá-las como componentes que transitam entre o discurso e realidade da formação.
Neste sentido, exploramos o quantitativo de disciplinas, focando em um estudo qualitativo de seu significado, entendendo que esta é uma forma importante de construirmos informação socialmente relevante. Evidenciar as contradições destas determinações foi uma tarefa que assumimos como um elemento metodológico importante. Portanto, concentramos as investigações nas grades curriculares dos cursos de AU das instituições públicas fluminenses – Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Instituto Federal Fluminense e Universidade do Estado do Rio de Janeiro –, tendo observado um cenário de sub-representação de disciplinas de urbanismo, sobretudo as ênfase teórico-crítica, e de predominância de abordagens centradas no projeto arquitetônico sob uma ótica descontextualizada e tecnicista. Os levantamentos evidenciam ainda que os percentuais vigentes dedicados ao ensino de urbanismo oscilam entre as referidas instituições e apresentam níveis inferiores aos previstos pelas DCNs de 2021, revelando como a organização curricular pode traduzir os discursos propagados, assim como suas implicações na formação profissional. Ao integrar essas reflexões, propomos a categoria "currículo-discurso" que visa auxiliar a reflexão sobre a forma como os discursos hegemônicos podem ser incorporados e reproduzidos no âmbito do ensino, aqui considerado no campo do urbanismo; ao mesmo tempo em que buscamos evidenciar suas contradições. Essa abordagem prevê, portanto, oferecer subsídios para pensarmos a formação em AU enquanto lugar de contestação, propondo que pensemos caminhos que conduzam a uma formação interdisciplinar e comprometida com o direito à cidade.
Pesquisas:
