Aline Couri Fabião
Título da Tese: Incons[ciências] do olhar: por outras cartografias do espaço
Ano de defesa: 2011
Orientador: Margareth da Silva Pereira
Resumo | Abstract: Esta tese explora as relações entre as práticas de “diagnóstico urbano” e suas “representações gráficas e visuais”, buscando desconstruí-las por meio da análise de um conjunto de palavras de uso corrente, bem como de imagens. Busca-se mostrar que “diagnósticos urbanos” são instrumentos do urbanismo pouco questionados enquanto exercícios de descrição, montagem e apresentação das cidades que se servem da articulação de elementos heterogêneos (textos, mapas, imagens, tabelas, etc.).
Procura-se salientar que, na diversidade material e de formas sociais e culturais que constituem as cidades, “diagnosticar” implica interpretar e “discriminar” o que se considera como objeto do “olhar”, de um “juízo” e de “projetos de mudança”. Sendo o urbanismo um campo transdisciplinar por excelência, a tese perpassa por diferentes áreas de conhecimento, discutindo autores e experiências nas áreas que tratam imagens, representações visuais e multimidiáticas de cidade. Tem-se por hipótese que o desenvolvimento e difusão das ferramentas digitais de apreensão, representação e análise urbana não vêm sendo acompanhadas por estudos críticos sobre os seus usos, possibilidades e limitações. O texto é resultado de um “método ensaístico” e propõe um sentido provisório para um conjunto de idéias, expectativas, impressões, ferramentas e ações, posicionando-se criticamente em relação a uma “vontade de verdade”. A tese apresenta-se, assim, como um conjunto de componentes (textuais e imagéticos) a partir dos quais é possível criar articulações, conexões e sentidos.
Por um lado, são problematizadas diferentes noções identificadas como essenciais das práticas de descrição, montagem, apresentação ou articulação de representações e sentidos. Estas noções, já que simultâneas às próprias práticas, foram reunidas em cadernos-verbetes que podem ser consultados e lidos de modo não linear. Neles poderão ser notadas, inclusive, repetições, ritornelos, loops, espirais, uma vez que as diferentes noções estão imbricadas umas às outras. Por outro lado, um caderno de imagens possibilita também a montagem e organização de representações gráficas e visuais, permitindo que sejam pensadas suas combinações e desterritorializações ou sejam propostas criações e articulações de sentidos originais, implicando em “descrições” que alertem para o modo ora plural, ora compartilhado da experiência da cidade.
Advoga-se ainda que a imagem-movimento pode possibilitar uma compreensão mais plural do sentido relacional do espaço, reforçando uma visão de cidade como algo múltiplo e dinâmico. Busca-se chamar a atenção para as potencialidades que trazem para o campo do urbanismo, minorando a importância atribuída às simulações ou modelizações e sublinhando a idéia de experiência. Espera-se que o processo de registro crítico dessas imagens venha a ser mais difundido e compreendido pelos diversos sujeitos urbanos - praticantes da cidade, pesquisadores e profissionais - possibilitando uma interrogação amplificada das relações que instauram a vida social e coletiva que chamamos “espaço urbano”. Em resumo, para além do caráter entre discricionário e lúdico da produção de todo articulador de representações ou articulador de sentidos, o discurso contemporâneo sobre o direito à cidade deve insistir que estas práticas ultrapassam os desígnios especialistas e envolvem todo aquele que vive, experimenta e constrói, de uma maneira cotidiana, a vida e o espaço urbano: os praticantes da cidade.