Marcelo Seidel Fiorotti
Título da Tese: Metapaisagem: Pesquisa e mapeamento dos seus valores imateriais
Ano de defesa: 2017
Orientador: Ivete Mello Calil Farah
Resumo | Abstract: Nosso tema reside na importância da espiritualidade para uma paisagem potente, inspiradora, significante. A metapaisagem é proposta como uma maneira de olhar, que procura ressaltar a mediação entre suas dimensões material e imaterial. A intenção é investigar a construção social da paisagem a partir dos valores espirituais, com foco na sua relação com os espaços livres. Essa questão é abordada mediante um estudo de caso da cidade de Anchieta, situada no litoral do Espírito Santo, marcada pela herança de São José de Anchieta. Nossa contribuição consiste em analisar e mapear os valores espirituais dos espaços livres no contexto do desenvolvimento urbano e industrial, que impõe transformações em comunidades tradicionais. A abordagem metodológica é inspirada no ponto de vista da médiance, de Augustin Berque, no sentido de compreender a mediação entre os processos físicos e fenomenais. Associam-se fontes variadas – história e literatura, poesia e fotografia, relatos e opiniões – para entender o importante papel que o lugar e o espaço desempenham no fenômeno da imaginação religiosa. A paisagem do estudo de caso é resultante das visões humanas ao longo de três fases (Reritiba, Benevente, Anchieta) sob interferência dos processos migratórios e das identidades culturais. Identificam-se espaços e lugares sagrados, especialmente os relacionados com as relíquias sagradas, juntamente com suas cerimônias religiosas e culturais (caminhadas, procissões, peregrinações) que lhes conferem sentidos particulares. Localizam-se algumas perspectivas estruturais da paisagem, que vislumbram ambientes espiritualmente significantes: mar, floresta e montanha. Verificam-se indícios de degradação ou destruição ambiental dos espaços livres com relevância espiritual ou religiosa. Os planos locais não reconhecem o valor espiritual, e quando o reconhecem, enfatizam a religião católica, sem considerar as comunidades tradicionais: descendentes de quilombolas, indígenas e caiçaras. Ao considerar os espaços livres como loci de manifestações espirituais, reconhecemos neles uma estreita simbiose entre terra e fé, ressaltando a interação das dimensões tangíveis e intangíveis. A recuperação dos espaços e lugares sagrados, de forma a integrá-los no planejamento, é uma forma de tornar nossa paisagem mais inteligível, valorizar conhecimentos ancestrais e promover a harmonia entre os vários níveis da realidade.
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