Gabriela Sousa Ribeiro
Título da Tese: Sou um Boneco do Mestre Vitalino: A Cadeia Artesanal Pernambucana e a Mercantilização da Cultura
Ano de defesa: 2016
Orientador: Lilian Fessler Vaz
Resumo | Abstract: “Sou um boneco de Mestre Vitalino”: a cadeia artesanal pernambucana e a mercantilização da cultura. Tese (Doutorado em Urbanismo). Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/PROURB, 2016. Nesta tese, buscamos discutir as contradições inerentes a cadeia artesanal no mercado capitalista. Nosso objetivo foi analisar como é organizada e manejada a cadeia artesanal, a partir das interferências decorrentes das disputas entre forças e poderes internos e externos, e o rebatimento deles na vida citadina dos artesãos, para entender em que medida esta cadeia influencia na propagação dos hábitos socioculturais da população local artesã e não artesã e na consolidação de sua identificação sociocultural e memória coletiva, com foco na cadeia artesanal pernambucana. Defendemos a hipótese de que o artesanato tradicional pode agir como duplo consolidador da memória coletiva, uma vez que as pessoas vivenciam a cidade, se reconhecem nela e materializam/representam esse reconhecimento na peça artesanal, fazendo com que este ciclo seja constantemente alimentado. Para confirmar a hipótese e atingir os objetivos pretendidos, desenvolvemos pesquisa exploratória e explicativa, a partir de abordagem qualitativa e transdisciplinar, investigando a cadeia artesanal pernambucana, tendo como base os artefatos encontrados à venda em Recife (eixo final da cadeia: espaços comerciais de artesanato) e feitos no bairro Alto do Moura, em Caruaru (eixo inicial da cadeia: espaços de concepção e feitura de artesanato). Os procedimentos metodológicos se basearam em dois momentos principais, primeiro de caráter bibliográfico-documental, que deu respaldo teórico à condução do segundo, de caráter empírico. A tese foi dividida em quatro capítulos. No primeiro, apresentamos o estado da arte das pesquisas sobre artesanato e discutimos os aspectos teóricos-metodológicos definidos para a condução da pesquisa, além de descrever os espaços comerciais de venda de artesanato em Recife e a cidade de Caruaru, suas particularidades, a Feira de Caruaru e o Alto do Moura. No segundo capítulo, analisamos a articulação entre vários conceitos e situações que permeiam o universo do artesanato, como cultura, identidade, diferença, representação, tradição e espetacularização dos aspectos socioculturais de uma localidade e sua inserção nas economias cultural e criativa; além de delinear o tipo de artesanato que é o foco de estudo desta tese, o artesanato tradicional. No capítulo 3, são discutidas as diversas formas de manifestações de forças verticais e horizontais ao longo da cadeia artesanal pernambucana, seus desdobramentos e externalidades para o cotidiano da população local. No capítulo 4, com base nos preceitos do direito à cidade, discutimos como se dão as relações entre memória, território e identidade, demonstrando como a memória coletiva pode ser consolidada a partir da materialização dos aspectos socioculturais vividos na cotidianidade da cidade pela população local e artesã. Foi possível comprovar a hipótese da pesquisa e contribuir para a discussão da cadeia artesanal num viés urbanístico, explorando-a de modo mais abrangente. Além de problematizar que a cultura deve ser preservada não para o turista, não apenas para se ganhar dinheiro a partir dela, mas para contribuir para que as pessoas se reconheçam na sua cultura, nas suas práticas, no seu mundo.